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    Neuropsicofarmacologia

    Ehcsztein
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    Data de inscrição : 04/08/2016

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    Mensagem por Ehcsztein Sex 05 Ago 2016, 11:11

    O MDMA é uma droga serotonérgica. A serotonina é um neurotransmissor cerebral, um entre os mais importantes deles. Pertence ao grupo das aminas biogênicas, do qual faz parte também a dopamina e outras; estas aminas são responsáveis por apenas 5 porcento da comunicação dos neurônios do cérebro, mas fazem uma diferença... Doenças como depressão e transtorno obsessivo-compulsivo tem suas raízes, muitas vezes, relacionada com a serotonina, e as drogas que tratam destas desordens tendem a afetar a serotonina. Já o mal de Parkinson, por exemplo, está relacionado com uma produção muito pequena de dopamina.

    Dê uma olhada neste cérebro [broken link], que é muito parecido com este aí na sua cabeça. A maioria das pessoas pensa que os neurônios são células minúsculas, que estão enroladas aos bilhões no cérebro. A segunda parte é verdade: são bilhões de neurônios fazendo, uns com os outros, cerca de 100 trilhões de conexões. Um número impressionante. Mas eles não são necessariamente sempre pequenos, como as células "normais", de livro de escola. Assim como as células musculares estriadas, alguns neurônios podem medir centímetros (uns 15 centímetros, por exemplo). Este é o caso de muitos neurônios serotonérgicos, que se estendem do núcleo da rafe, no tronco cerebral, para todo o cérebro, até o córtex. Se eu estendesse um na sua frente, porém, você não o veria, por ser infimamente espesso.

    A molécula de serotonina vem de antes do cérebro: pode ser encontrada em vegetais, e em outros animais. A presença de neurônios produtores de serotonina no cérebro humano, porém, é característico. Ela está na base da regulação de coisas como o sono, o humor, sociabilidade, agressão, temperatura, cognição, ritmos circadianos, responsividade e resiliência emocional, atividade sexual, integração sensório-motora, e o amor romântico.
    A dopamina, por sua vez, está ligada intimamente com o circuito de recompensa do cérebro; é ela que está presente quando se trata do "gostar" e do "desejar" ou não algo "no mundo", e a experiência de prazer em si.

    Existem quatro tipos de comunicação entre os neurônios. Uma delas é a sináptica, ou química, referindo-se ao espaço entre um neurônio e o outro utilizado para a troca de mensagens: a sinapse. Os neurotransmissores fazem seu trabalho nesta "terra de ninguém" entre os neurônios. Uma "mensagem" chega a um neurônio a partir de outro, pelo dendritos; ela viaja pelo corpo neuronal, chegando até os axônios, terminando nas sinapses; neste ponto, os neurotransmissores são liberados, através de pequenas vesículas, na sinapse. No outro neurônio (pós-sináptico) existem receptores para vários tipos de neurotransmissores; assim, quando a serotonina é lançada na sinapse, ela se "encaixa" nos receptores serotonérgicos, e desta forma a mensagem pode continuar o seu caminho.

    O excesso de neurotransmissores na sinapse pode ser reabsorvido pelo axônio do primeiro neurônio (pré-sináptico), através de uma "bomba de reabsorção", como o transportador de serotonina (SERT). O neurotransmissor volta para dentro do neurônio de origem e pode, então, ser utilizado novamente, ou ser reciclado.

    Embora não possamos dizer que "é assim que funciona", o que sabemos até agora sobre o papel dos neurotransmissores em várias atividades do cérebro pode nos ajudar bastante a compreender "como as coisas funcionam". É uma explicação incompleta e um tanto simplista, mas bastante útil.
    Muitas das drogas conhecidas trabalham essencialmente com a maneira como os neurotransmissores são liberados na sinapse. A cocaína, por exemplo, bloqueia o transportador de reabsorção da dopamina, de modo que mais dopamina permanece "livre" na sinapse. A fluoxetina (mais conhecida como Prozac, o famoso antidepressivo) faz a mesma coisa, só que com a serotonina. A anfetamina, da mesma forma que a cocaína, impede a reabsorção da dopamina; além disto, porém, ela age diretamente nos neurônios dopaminérgicos, fazendo com que eles liberem mais dopamina ainda.

    O MDMA tem uma ação muito parecida com a da anfetamina, atuando, porém, em sua maior parte, nos neurônios serotonérgicos. Eu disse parecida por que o MDMA não inativa o SERT, mas sim faz com que ele inverta a direção do processo, de modo que o transportador, em vez de recolher, bota pra fora a serotonina que existe dentro do neurônio. De alguma forma, a molécula de MDMA entra dentro do neurônio, talvez por difusão passiva ou pelo SERT, e lá dentro estimula a liberação de serotonina (provavelmente do retículo endoplasmático) através dos canais dos SERTs (e não pela via "normal"). Esta liberação é cálcio-independente, o que quer dizer que independe da descarga (firing) do neurônio.

    À esquerda, sinapse serotonérgica normal, e à direita, com o MDMA. Os vermelhinhos são serotonina, os rosinhas são MDMA, as bolonas são as vesículas com serotonina, a coisa esquisita verde-azul é o SERT (proteína transportadora da serotonina, que está com a direção de fluxo invertida com o MDMA); embaixo, no dendrito do neurônio pós-sináptico, os diversos receptores de serotonina, com destaque para o 5-HT2 (azul) e a sua afinidade com o MDMA.


    Por: Ítalo Verdelli

      Data/hora atual: Qui 09 maio 2024, 22:39